Introdução
A obesidade é uma condição crônica, multifatorial e progressiva, associada a diversas comorbidades, como hipertensão, dislipidemia, pré-diabetes e diabetes tipo 2. Estratégias eficazes de controle de peso são fundamentais para mitigar riscos cardiometabólicos e melhorar a qualidade de vida. Embora intervenções no estilo de vida — como dieta e exercício — sejam pilares no tratamento, sua eficácia de longo prazo é frequentemente limitada.
Nesse contexto, a liraglutida 3,0 mg, um agonista do receptor de GLP-1, vem ganhando destaque como ferramenta farmacológica para controle do peso corporal. O ensaio clínico SCALE Obesity and Prediabetes avaliou sua eficácia e segurança em adultos com sobrepeso ou obesidade sem diabetes tipo 2. Neste artigo, detalhamos os principais achados desse estudo de referência.
Mecanismo de Ação e Funções Fisiológicas da Liraglutida
A liraglutida é um análogo do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), com 97% de homologia ao GLP-1 humano. Atua principalmente por meio da modulação do apetite e da saciedade, promovindo a redução da ingestão calórica.
Ao se ligar ao receptor de GLP-1 no sistema nervoso central e trato gastrointestinal, a liraglutida:
- Aumenta a sensação de saciedade
- Diminui o esvaziamento gástrico
- Reduz o apetite
- Modula a secreção de insulina e glucagon de forma dependente da glicose
Diferente de outros agentes que elevam o gasto energético, a perda de peso promovida pela liraglutida está mais associada à redução da ingestão de energia.
Benefícios: Evidências Clínicas do Estudo SCALE
O estudo SCALE foi um ensaio duplo-cego, controlado por placebo, com 56 semanas de duração, envolvendo 3.731 pacientes com sobrepeso ou obesidade sem diabetes. Os participantes foram randomizados em uma proporção de 2:1 para receber liraglutida 3,0 mg ou placebo, sempre associados a dieta hipocalórica e aumento da atividade física.
| Parâmetro Avaliado | Resultados |
|---|---|
| Perda de Peso Corporal |
Perda média de peso: • Liraglutida: −8,4 kg (−8,0%) • Placebo: −2,8 kg (−2,6%) • Diferença entre grupos: −5,6 kg Taxas de resposta clínica: • ≥5% de perda de peso: 63,2% (liraglutida) vs. 27,1% (placebo) • >10% de perda de peso: 33,1% (liraglutida) vs. 10,6% (placebo) |
| Melhorias Cardiometabólicas |
Circunferência da cintura: • Redução média: −8,2 cm (liraglutida) vs. −3,9 cm (placebo) Pressão arterial: • Sistólica: −4,2 mmHg • Diastólica: −2,6 mmHg Perfil lipídico: • Melhora modesta em colesterol total, LDL, VLDL e triglicerídeos |
| Parâmetros Glicêmicos |
|
Segurança e Efeitos Adversos
A liraglutida apresentou um perfil de segurança consistente com estudos anteriores, mas com atenção a alguns eventos adversos.
| Tipo de Evento | Detalhamento |
|---|---|
| Eventos Adversos Comuns |
• Náusea (40,2%), diarreia (20,9%), constipação (20,0%) e vômitos (16,3%) • Sintomas gastrointestinais foram o principal motivo de descontinuação do tratamento (6,4%) |
| Eventos Graves |
• Pancreatite: 10 casos no grupo liraglutida vs. 1 no placebo (relacionados principalmente à colelitíase) • Colelitíase e colecistite: Mais frequentes com liraglutida (2,5%) do que com placebo (1,0%) • Neoplasias mamárias: Desequilíbrio numérico — 10 eventos no grupo liraglutida vs. 3 no placebo • Frequência cardíaca: Aumento médio de 2,5 bpm com liraglutida |
Recomendações Finais
- A liraglutida 3,0 mg deve ser considerada como parte de uma abordagem multidisciplinar, incluindo mudanças no estilo de vida e acompanhamento clínico regular.
- É indicada para adultos com IMC ≥30, ou ≥27 com comorbidades associadas, sem diagnóstico de diabetes tipo 2.
- A seleção de pacientes, o manejo de efeitos adversos e o monitoramento contínuo são cruciais para a eficácia e segurança do tratamento.
Conclusão
O estudo SCALE forneceu evidências robustas de que a liraglutida 3,0 mg, administrada uma vez ao dia, é uma opção terapêutica eficaz para a perda de peso em pacientes com sobrepeso ou obesidade sem diabetes. Seus benefícios vão além da redução de peso, incluindo melhorias significativas no perfil glicêmico, pressão arterial e marcadores metabólicos.
Embora os efeitos adversos, especialmente gastrointestinais, sejam frequentes, eles tendem a ser autolimitados e ocorrem predominantemente no início do tratamento. O acompanhamento médico é essencial para avaliar riscos, ajustar doses e monitorar eventos adversos potencialmente graves.
⚠️ Nota Importante: Este conteúdo é apenas informativo. Todas as suplementações devem ser realizadas sob orientação médica, após avaliação individual completa e com acompanhamento regular através de exames laboratoriais.